Paralisia Cerebral: conceitos e tratamento
Uma das desordens neurológicas
mais recorrentes em meu consultório é a Paralisia Cerebral (PC). É caracterizada como uma série de desordens do movimento e da postura,
provenientes de distúrbios não progressivos ocorridos durante o desenvolvimento
do cérebro imaturo e interfere na maturação do Sistema Nervoso Central que
limita o aprimoramento motor dessas atividades.
Causas
da Paralisia Cerebral
Para entender melhor as causas
da PC separei-as em 3 grandes grupos: PC pré-natais, PC perinatais e PC pós-natais.
Pré-natais: são as lesões que ocorrem antes do nascimento.
Algumas doenças da gestante podem comprometer a formação das estruturas
neurológicas do feto dentro do útero, como a diabete, a pressão alta e
infecções virais como a rubéola e a toxoplasmose, além do uso de certas
substâncias pela futura mãe (Ex: álcool, drogas e tabaco).
Perinatais: são as lesões neurológicas que acontecem no
período que vai do começo do trabalho de parto até 6 horas após o nascimento. É
um período curto em que o bebê passa por grandes transformações a que tem que
se adaptar rapidamente. A prematuridade, o baixo peso, o trabalho de parto
muito demorado, entre outras situações, predispõe o sistema nervoso imaturo a
não efetuar essa adaptação com a rapidez suficiente, ocorrendo então a lesão.
Pós-natais: durante a infância, infecções como a meningite,
traumas cranianos e tumores podem comprometer o sistema nervoso que ainda está
se desenvolvendo. Quando esses problemas agudos são resolvidos, muitas vezes
deixam “cicatrizes” que podem comprometer o desenvolvimento normal, levando às
alterações clínicas típicas da PC. Após os dois anos de idade, o SNC
encontra-se completamente desenvolvido, portanto, o mesmo tipo de agressão ao
sistema nervoso após essa idade vai causar sintomas diferentes, não mais
definidos como PC.
Sinais
e Sintomas
É comum entre os pacientes que apresentaram episódio de PC que
ajam comprometimento em regiões do Sistema Nervoso Central (SNC) responsável
pela função motora. Esta alteração gera alguns distúrbios nas funções como
movimentar braços e pernas, andar, sentar, mastigar, engolir, etc. A estas
alterações dá-se o nome de distúrbios motores e os movimentos afetados dependem
sempre da área do SNC lesado.
Além da disfunção motora, principal sintoma desta desordem,
outros sintomas neurológicos podem ou não estar presentes, entre eles: crises
convulsivas, dificuldades visuais, dificuldades de fala, problemas para
alimentação e função respiratória, deficiência auditiva, deficiência mental,
entre outros. É importante ressaltar que a presença desses outros sintomas é
muito variável entre os pacientes e pode interferir no desenvolvimento global
de cada um.
Tipos
de PC
Classifica-se clinicamente a PC de acordo com o tipo de
dificuldade motora:
· PC espástica: é o tipo mais comum, e ocorre por
lesão do córtex motor do cérebro, região que comanda primariamente os
movimentos. Nesse tipo, os músculos têm, ao mesmo tempo, a força diminuída e o
tônus aumentado, o que se chama espasticidade. Os pacientes apresentam os
músculos enrijecidos, sendo difícil fazer o movimento tanto pelo próprio
paciente como por outra pessoa. Os músculos mais tensos crescem menos, e por
isso, a criança, com o tempo, pode desenvolver encurtamentos musculares,
conhecidos como contraturas. O crescimento dos ossos, influenciado pela tensão
dos músculos, também pode ser alterado, evoluindo para as deformidades. Além
disso, o desenvolvimento motor, a aquisição das atividades motoras como sentar,
engatinhar e andar, é atrasado de forma leve, moderada ou grave.
· PC extra-piramidal: acontece por lesão de áreas
mais profundas do cérebro conhecidas como núcleos da base ou sistema
extra-piramidal responsável pela modulação do movimento, ou seja, pela inibição
de movimentos indesejados. Nesse tipo de lesão, o movimento acontece, mas de
forma exagerada, sem modulação, gerando o que se define como movimentação
involuntária. A criança apresenta movimentos que lembram os de uma marionete,
podendo ser muito amplos, ou coreicos, ou mais rápidos e distais, os atetóides;
quando esses movimentos mantêm a criança em posturas muito diferentes,
assimétricas e fixas, recebe o nome de distonia. Neste tipo clínico, o atraso
do desenvolvimento motor também vai acontecer, mas as deformidades ortopédicas
e o comprometimento mental são menos comuns.
· PC atáxico: esse tipo clínico de PC é o mais
raro. Acontece por lesão do cerebelo, área do SNC responsável pelo equilíbrio e
coordenação. As crianças com esse tipo de lesão geralmente apresentam tremores,
incoordenação tanto das mãos, como dos membros inferiores e do tronco e, quando
andam, não conseguem fazê-lo em linha reta. Nestes pacientes também é raro
ocorrerem deformidades, mas as alterações de fala e o comprometimento mental
são comuns.
Como
é feito o diagnóstico de PC?
O diagnóstico da PC é clínico,
o que quer dizer que o médico chega à conclusão que a criança tem PC através
das informações recebidas da família (história) e da avaliação do paciente
(exame físico).
Não existe nenhum exame
complementar que faça o diagnóstico de PC. Como o próprio nome diz, os exames
de laboratório ou de imagem são complementares, e são pedidos pelo médico para
ajudar a compreender melhor o quadro clínico de cada criança.
Segundo a Associação
Brasileira de Paralisia Cerebral, para que uma criança com dificuldade motora
tenha o diagnóstico de PC, é necessário:
- Que a lesão neurológica tenha acontecido durante a fase de desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC) (fase que vai desde o momento da concepção até os 2 anos de idade).
- Que a lesão neurológica não seja uma lesão progressiva. A criança vai apresentar mudanças decorrentes de seu crescimento e amadurecimento, mas a lesão em si é estacionária, ou seja, não vai piorar e também não vai desaparecer.
Tratamento
Há diferentes formas de
tratamento, desde medicamentos por via oral até cirurgias, mas a estimulação
precoce e a fisioterapia são imprescindíveis no tratamento do paciente com PC.
A atuação da fisioterapia nos quadros neurológicos tem importante papel para
facilitar aquisição do desenvolvimento motor diminuindo ao máximo a
interferência de reflexos, bloqueios, contraturas e deformidades. A
fisioterapia deve trabalhar com o desenvolvimento das habilidades que a criança
tem desenvolvendo suas funções e gerando sua independência.
Durante anos, em uma tentativa
de combater tais alterações e adquirir um aumento da funcionalidade durante as
tarefas motoras, os profissionais da fisioterapia utilizavam o método Bobath.
Esse método preconizava a advertência aos exercícios de fortalecimento
muscular, afim de que não houvesse aumento da espasticidade e de reações
anormais ao movimento em pacientes neurológicos. Novos estudos, contudo,
apontam para o fato de que o fortalecimento muscular pouco afeta a
espasticidade e torna-se ainda uma intervenção segura e eficaz para os citados
pacientes. O conceito Bobath passou, então, por reformulações e continua sendo um dos métodos mais aplicados nos consultórios de fisioterapia.
Outras técnicas também são utilizadas como a Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP), mais conhecida como método Kabath. A FNP tem como princípios a estimulação dos proprioceptores para aumentar a demanda feita ao mecanismo neuromuscular, integrando técnicas manuais de alongamento e fortalecimento com princípios neurofisiológicos de indução sucessiva, inervação e inibição recíproca, além do fenômeno de irradiação.
Vale ressaltar que há inúmeras técnicas e métodos de tratamento para a Paralisia Cerebral e que não há técnica correta. Nenhuma técnica é superior a outra. A evolução do paciente em resposta ao tratamento é que dirá qual o melhor método para determinados casos.
Outras técnicas também são utilizadas como a Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP), mais conhecida como método Kabath. A FNP tem como princípios a estimulação dos proprioceptores para aumentar a demanda feita ao mecanismo neuromuscular, integrando técnicas manuais de alongamento e fortalecimento com princípios neurofisiológicos de indução sucessiva, inervação e inibição recíproca, além do fenômeno de irradiação.
Vale ressaltar que há inúmeras técnicas e métodos de tratamento para a Paralisia Cerebral e que não há técnica correta. Nenhuma técnica é superior a outra. A evolução do paciente em resposta ao tratamento é que dirá qual o melhor método para determinados casos.
Therasuit
como uma nova proposta
Baseado nesses novos
conceitos, o casal de fisioterapeutas Richard e Izabela Koscielny criaram o
método TheraSuit. Nessa terapia, a criança utiliza uma vestimenta especial
baseada nas roupas utilizadas pelos astronautas russos a fim de minimizar o
efeito do peso do corpo no espaço, e assim, diminuir a disfunção motora. Esse
equipamento possui elásticos e polias que auxiliam no posicionamento e
alongamento muscular durante a fisioterapia e criam força artificial contra a
qual o corpo pode trabalhar para ajudar a evitar a atrofia muscula. O método
consiste em um programa de exercícios intensivo realizados em 3 ou 4 horas,
cinco vezes por semana durante três ou semanas. Como resultado, espera-se obter
melhora na funcionalidade e controle do movimento, coordenação motora, força
muscular.
Comentários
Postar um comentário